quinta-feira, 26 de julho de 2012

Ubá: a arte como elemento para melhorar o ser humano em seu comportamento, sua sensibilidade, sua forma de ver o mundo


Aparecida Camiloto – Secretária de Cultura, de Esportes e Turismo e Cassius Lopes – Gestor Cultural de Ubá 


Música, poesia, literatura, teatro estão gravados na história de Ubá, a “cidade carinho” da Zona da Mata Mineira. Entre seus filhos ilustres estão Antonio Olinto, um dos imortais da Academia Brasileira de Letras, Ascânio Lopes, poeta de vida breve, mas de importância na literatura modernista, o cantor Nelson Ned, o ator Mauro Mendonça e o criador de Aquarela do Brasil, compositor e radialista, Ary Barroso. Além destes, possui entre sua população de 97 726 habitantes  artistas de segmentos diversificados como os componentes da centenária Banda 22 de Maio.

Diante de uma história cultural abrangente a secretária de cultura, arte educadora e pianista, Aparecida Camiloto, se ressente pela perda da identidade cultural ubaense. Acredita que esta identidade desvaneceu-se por má vontade política no decorrer dos anos, quando os representantes da cultura não deram seguimento às realizações de seus antecessores. Devido a isto e por acreditar ser Ubá um “celeiro de talentos”, busca em sua gestão o resgate da memória cultural da cidade e desenvolve políticas públicas em que todas as manifestações artísticas são prioridade. “O artista deve ter abertura e incentivo para criar o que quer”,  diz a arte educadora, ressaltando que também o público deve ter acesso a diversificadas manifestações culturais e assim poder fazer suas escolhas entre a banda de música e o rock, as artes plásticas e o artesanato, o balé e a capoeira, o erudito e o popular, ou se assim quiser, optar por todas. “Ao invés da dança de salão preferimos ensinar a folclórica porque tem raiz, é perene e não apenas uma diversão”.   As ações da secretaria de cultura de Ubá evitam trabalhar com o modismo e a indústria cultural por, como afirmava Adorno, reprimirem o pensamento e evitarem qualquer tipo de esforço intelectual. 

Ubá é mais uma cidade da região que ainda não se beneficia das leis de incentivo à cultura estadual e federal, além de não contar com uma municipal. Suas ações são realizadas através de recursos próprios e parcerias.  Entre as principais atividades promovidas pela Secretaria de Cultura de Ubá está o Programa TIM ArtEducAção em parceria com a ONG Humanizarte, a TIM e empresas locais, que tem como foco a descoberta e o incentivo de novos talentos e é realizada no Centro Experimental de Artes, espaço público onde são oferecidas dezesseis modalidades artísticas para crianças de sete a dezessete anos num total de 670 jovens.  O projeto de Educação Patrimonial também é considerado pelos gestores como de grande relevância para a cultura local, seguidos pelos também significativos Hora do Conto, onde a contação de histórias é um dos recursos utilizados para o incentivo à leitura e a utilização da Biblioteca Pública Municipal; o Aquarela na Praça, que além de apresentações musicais, de dança e de peças teatrais levou segurança a uma praça antes frequentada por traficantes e extremamente violenta; o Música na Biblioteca que a cada dois meses promove apresentações de piano, violino, violão, trilhas sonoras de filmes e MPB; o Plural das Palavras, exposições temporárias que também acontecem na Biblioteca Municipal e têm como objeto clássicos como Carlos Drummond, Charles Perrault, Mario Quintana e Manoel Bandeira;  a  Biblioteca Itinerante que leva livros para dentro das fábricas com o intuito de estimular a leitura entre os operários; ruas de lazer que promovem a música, a dança e brincadeiras populares; o Festival de Música que oferece o Prêmio Ari Barroso aos artistas locais; e a popularização de teatro que se dá através de cursos, palestras e apresentações no Centro Experimental de Artes.

É fácil perceber o encantamento dos trabalhadores da cultura pelo que fazem, pois são tomados de entusiasmo quando solicitados que falem sobre seus projetos e sonhos alcançados, em desenvolvimento ou a se realizar. A gestão da cultura em Ubá vivencia as políticas públicas que busca promover com certo diferencial. Aparecida Camiloto e Cassius Lopes trabalham na linha de frente dos projetos que criam junto aos jovens a quem procuram beneficiar “não formando artistas, mas tornando-os cidadãos melhores” . Dizem preferir trabalhar assim porque acreditam que não se vive sem cultura e que ela lhes é necessária. Cultura segundo eles é paixão, é vital, é criação, é amanhecer e anoitecer pensando nas ações a serem desenvolvidas, e acima de tudo é ter prazer com o que é produzido, seja material ou simbólico, porque este “produto” tem o poder de tornar as pessoas mais felizes. “Utilizo e apoio a utilização do conceito de cultura antropológica, a arte como elemento para melhorar o ser humano em seu comportamento, sua sensibilidade, sua forma de ver o mundo. No ensino da arte estão estabelecidos outros valores que vão utilizar também fora dos palcos e apresentações, como compromisso, disciplina, postura, educação ao tratar as pessoas.” 

É este tipo de razão que leva Camiloto a trabalhar com tanto entusiasmo em prol da cultura ubaense e do resgate de sua identidade, seja através da retomada das atividades da Academia Ubaense de Letras, das homenagens prestadas a Ary Barroso e sua Aquarela, da reformulação da lei de incentivo municipal da cultura que não foi implementada, da indignação frente à escassez de recursos e a aqueles que trabalham com a cultura, mas não são apaixonados, ou através de sonhos. Sonho é palavra importante no vocabulário dos ubaenses. Sonham com um cinema, com um teatro, com um festival de gastronomia, com a democratização e a descentralização da cultura. Que a arte, a dança e a música sejam levadas às pessoas mais simples, que até então não tiveram acesso a elas, com a valorização dos artistas locais, de suas tradições e talentos. Sonham também com mais verbas, porque quanto mais as tiverem mais farão, pois a criatividade não possui limites. Pensando assim, ainda muito realizarão e poderão cantar Ubá em versos, fazendo-o gingar na “terra de nosso Senhor” como o fez seu indescritível compatriota.

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