terça-feira, 24 de julho de 2012

Além Paraíba: ainda sem se beneficiar plenamente pelas leis de incentivo, o município investe recursos próprios na cultura


A menor cidade em número de habitantes entre as que fizeram parte desta pesquisa qualitativa, 34.137, não se adéqua ao adjetivo quando o assunto é investimento em cultura. Possui verba anual fixa de aproximadamente R$600.000,00 e extras, como a destinada ao restauro do Cine Teatro Brasil, que recebeu do cofre público municipal em 2008 o montante de R$1.500.000,00.

Na gestão dos projetos e à frente do departamento de cultura do município há cinco anos está, Pedro Augusto Rocha Costa, historiador, músico e professor, que no início de sua gestão via a falta de mão de obra qualificada como maior entrave no desenvolvimento da cultura alemparaibana. Nos dias atuais diz que este não é mais o maior problema, pois os trabalhadores da cultura vêm buscando aperfeiçoamento e com isto enriquecendo seu trabalho. No entanto, outra dificuldade atinge o município. Além das fortes chuvas que devastaram o município no início de 2012 diminuindo as verbas da cultura, o patrimônio está desgastado e necessita restauro urgente. Para sanar o problema Costa trabalha na busca de recursos e faz desde a arte e os textos dos panfletos de divulgação das ações da secretaria, até curso para construção de teatro de bonecos com o objetivo de se tornar disseminador da arte entre os concidadãos. Bem ao estilo dos intelectuais do início do século XX, citados por Ortiz no livro Mundialização da Cultura, que se desdobravam para atender as demandas político-culturais da época se transformando em escritores-editores, literatos-jornalistas, antropólogos-radialistas.


Os projetos culturais em Além Paraíba são desenvolvidos em seus bairros, ruas, praças e em cinco prédios especialmente preparados para a função - Casa de Cultura José Ruy da Cunha Moreira, Espaço Artes, Centro Ferroviário de Cultura, Cine Teatro Brasil e o Museu de História e Ciências Naturais. O primeiro sedia a administração e abriga a loja de artesanato, Ateliê Feito por Nós. O segundo é onde são realizadas as oficinas de arte. Assim, tendo como principal foco o artista local, o Espaço Artes é tido como instrumento de capacitação e oportunização para que o artista desenvolva e divulgue seu trabalho. Nele são realizadas oficinas de violão, violino, flauta doce, decoupagem, desenho e pintura.

Pedro Augusto Rocha Costa – Coordenador do Departamento de Cultura de Além Paraíba

O Centro Ferroviário de Cultura abriga Biblioteca Pública Municipal Otacílio Coutinho, o Museu Ferroviário Professor Victor José Ferreira e o Museu do Cine Brasil que contam através de peças, equipamentos, fotos e documentos a história da ferrovia e do cinema locais. 

O Cine Teatro Brasil fundado em 1951, sediou importantes apresentações artísticas e recebeu conhecidos representantes da cultura no país. Fechado em 1997, foi reativado 10 anos mais tarde após ser restaurado pela Prefeitura e passou a compor um dos cenários mais completos da região. Conta com galeria de arte e espaço para convivência e recebe alunos das escolas da cidade e da Zona Rural em sessões especiais.

Seguindo a trilha das artes cênicas a Secretaria de Cultura criou o Cinema na Praça, que exibe filmes uma vez por mês nos bairros da cidade e o Estação Cultural que capacitou jovens do Ensino Fundamental e Médio com técnicas da arte de vídeo e de cinema digital. Os aprendizes se familiarizaram com todas as fases de produção de um curta-metragem digital – desenvolvimento do roteiro, organização da produção, direção, direção de arte, fotografia para vídeo e iluminação, uso da câmera, edição de imagens e som, além do estudo da linguagem cinematográfica e de vídeo. O resultado do trabalho foi o resgate e registro da cultura através da produção de documentários sobre os bairros, ao retratar suas histórias, os sonhos e os desejos dos moradores. 

O Museu de História e Ciências Naturais foi fundado em 21 de agosto de 1993 por um grupo de jovens e seus trabalhos de pesquisa tiveram início após a descoberta de ossadas encontradas em Além Paraíba. É a única instituição no município que tem se beneficiado pelas leis de incentivo à cultura do Estado de Minas Gerais, do Fundo Estadual de Cultura de MG e da Lei Rouanet, e apesar de seu gestor, André Martins Borges, considerar como maior dificuldade para o desenvolvimento de suas ações o processo de captação de recursos junto às empresas, reconhece que foi através delas que conseguiu o restauro do Museu e ampliou suas atividades. Os projetos desenvolvidos procuram integrar a comunidade e tem como foco principal o resgate de sua história, além de manter oficinas de audiovisual, quadrinhos e teatro no Ponto de Cultura Estação Digital, também instalado no Museu.

Segundo Costa, o projeto meu Bairro Faz Arte se destaca entre as ações movidas pela secretaria. Com o objetivo de valorizar e otimizar as manifestações culturais - artesanato, música, teatro, dança, literatura, cinema - acontece a cada mês em um bairro diferente. “A iniciativa ocupa uma praça, uma rua, um teatro, um centro comunitário, uma quadra esportiva ou uma escola do bairro e, através de apresentações artísticas, oficinas e brincadeiras, cultiva as identidades, motiva as transformações, e constroi a história nos lugares visitados”.  

Festivais de música, bibliotecas fixas em prédios municipais e sobre rodas que correm os bairros em busca dos leitores, contadores de histórias, artesanato, museus ferroviário, de cinema e de ciências e histórias naturais, orquestras de violão, encontro de bandas, corais e grupos de seresteiros se multiplicam com força equivalente às das águas caudalosas do rio Paraíba do Sul, que corta a pequena cidade.

Para Costa, o que representa a identidade cultural de Além Paraíba são os Torreões, Conjunto Arquitetônico da Estação de Porto Novo. Segundo o Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais , a estação foi construída para ser o terminal do ramal de Porto Novo, na então São José d’Além Paraíba e foi inaugurada por D. Pedro II em 06 de agosto de 1871, com a chegada de trens especiais oriundos do Rio de Janeiro. 

Os Torreões ainda preservam suas principais características e foram tombados pelo município, consciente da necessidade premente de sua restauração. Em busca de tal ação, o poder público conseguiu sensibilizar, em setembro de 2009, o IPHAN, deputados, ministério público e a empresa Furnas Centrais Elétricas para audiência pública onde se discutiu com a comunidade local, o destino e a recuperação do Patrimônio Histórico e Cultural Ferroviário do Município. O processo de recuperação da área não é simples, pois o terreno e os prédios pertencem à União, advindos da extinta Rede Ferroviária Federal e requer esforços para sanar problemas burocráticos, além da busca orçamentária. No entanto, a mobilização já teve início e a recuperação do símbolo da identidade cultural alemparaibana já pode ser considerada um sonho realizável.

Pedro Augusto Rocha Costa – Coordenador do Departamento de Cultura de Além Paraíba

Além Paraíba conta também com instituições promotoras de cultura fruto da iniciativa civil como é o caso do Grupo Teatral Evolução e do Coro Emap. O primeiro se fez conhecido no município e região, conquistando além da credibilidade, o apoio do comércio local para realização de seus trabalhos. Possui inúmeras monções da Câmera Municipal e demais órgãos da cidade e participa de mostras e festivais de teatro em Minas Gerais. O Grupo tem entre seus principais projetos o Festival Estudantil de Teatro onde cultiva-se a dramaturgia entre os estudantes, promove-se o intercâmbio entre Estados e forma-se plateia; o Represente com a Gente onde oferece-se a Oficina de Iniciação Teatral e a possibilidade de fazer estágio no Grupo Evolução para renovação de elenco; e o Traquinarte, que idealizado para o público infantil promove recreação aliando o prazer de brincar com o aprendizado das artes plásticas, música e teatro.

O Coro Emap, apoiado pelo comércio e empresas locais, é realizado no Fórum das Artes onde são oferecidos aos coristas aulas de instrumento e voz, acesso à internet e ao acervo de partituras instrumental e vocal. O Coro trabalha para divulgar a arte coral promovendo o Encontro de Corais quando é realizado o intercâmbio entre os corais da cidade e região. 

Além Paraíba já é destaque na promoção da cultura local em relação aos poucos investimentos oferecidos ao setor não só na Zona da Mata Mineira, mas em todo país. No entanto, apesar de realizar um trabalho significativo, Costa lembra que assim como o MinC, “a secretaria de cultura é a que recebe menor investimento na cidade e, além disso, quando se precisa economizar é dela que se retiram as verbas.”  Neste caso é importante lembrar Eagleton, que acredita que para a sobrevivência da cultura ela não poderá perder a característica de diálogo com a produção de bens materiais de forma consciente.

Mesmo com todos os problemas, como a falta de recursos ou de mão de obra qualificada, trabalhar com a cultura é uma das maiores alegrias do historiador, pois “é ela que movimenta a nação e enobrece o indivíduo. Quem trabalha com cultura tem um lado mais humano e sensível.”  Talvez aí esteja o motivo do trabalho desenvolvido na cidade e dos projetos que estão por vir, sejam eles de grande porte como a reforma dos Torrões e do futuro Festival de Gastronomia de Além Paraíba ou de ações basilares como o empoderamento dos artistas da cidade, um dos principais objetivos de seus trabalhadores da cultura.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Críticas e sugestões de instituições culturais para serem mapeadas serão sempre bem vindas.