quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Muriaé: educação com arte e formação de público cultural


É preciso levar em consideração a representatividade de algumas cidades na Zona da Mata Mineira no que se refere a políticas públicas de cultura. Muriaé, com população de 99.949 habitantes  localizada a 316 km de Belo Horizonte, é uma delas. Suas ações em prol da cultura são realizadas através da Fundação de Cultura e Artes de Muriaé  responsável também pelo desenvolvimento do esporte, do lazer e do turismo. Em atividade há catorze anos tem como superintendente há sete, a senhora Gilca Maria Hubener Vieira Napier, professora de música, musicoterapeuta, psicooncologista e Mestre em Educação.

 Gilca Maria Hubener Vieira Napier - Superintendente de Cultura em Muriaé

Além da preservação dos bens tombados, única preocupação aparente das políticas públicas culturais em grande parte das cidades do interior, a FUNDARTE mantém um calendário regular de atividades culturais, esportivas e de lazer. Sob sua tutela estão: a “Biblioteca Pública Municipal”, a “Escola de Musica Leonel Vargas” com sua “Banda Sociedade Musical União dos Artistas”, a “Escolas Municipais de Artes”, o “Memorial Municipal Vivaldi Venceslaw Moreira” e o “Arquivo Histórico”, o “Ginásio Poliesportivo Rodrigo Flores Abreu”, o “Teatro Zaccaria Marques”, o “Teatro Gregório de Mattos Guerra”, a “Galeria de Artes Plásticas Mônica Botelho”, o “Centro Cultural e Turístico Regional Dr. Pio Soares Canêdo – Grande Hotel Muriahe”. Segundo sua gestora, entre os projetos mais significativos estão: as “Escolas Municipais de Arte” que têm como foco o teatro, a dança, as artes visuais, o audiovisual e a música e que objetivam mais que a descoberta de talentos, a criação de público artístico; o “Centro Cultural e Turístico Regional Dr. Pio Soares Canêdo”, antigo “Grande Hotel Muriahe”, restaurado e transformado em complexo cultural quando passou a abrigar a “Escola Municipal de Artes Visuais”, a “Cinemateca”, o “Memorial do Café”, a “Galeria de Artes Mônica Botelho”, o “Memorial Dr. Pio Soares Canêdo” e o “Departamento de Patrimônio Histórico e de Turismo da FUNDARTE”; e a criação do Fundo Municipal de Cultura, Lei “Alcyr Pires Vermelho”, responsável por grande parte das verbas destinadas à cultura no município. Muriaé assim, soma até a presente data com Juiz de Fora, Cataguases e Senador Firmino, o inexpressivo número de cidades da Zona da Mata Mineira a possuir uma Lei de Incentivo à Cultura em funcionamento.

Nos últimos dois anos Muriaé exerceu fundamental influência na criação do Consórcio Intermunicipal de Cultura da Zona da Mata de Minas Gerais, que busca unir forças em prol da cultura da região, e dos quais fazem parte também os municípios de Cataguases, Leopoldina e Itamarati de Minas. O consórcio, além de planejar e executar projetos e programas para o desenvolvimento da cultura, busca especialmente ampliar as atividade do “Polo Audiovisual, Regional da Zona da Mata Mineira”. À frente das ações do Polo, ao lado de Cataguases, o município criou a “Escola Municipal do Audiovisual” e foi cenário do filme “Quase Samba” do diretor Ricardo Torgino. 

Outro empreendimento recente busca a valoração da literatura com a criação de ações voltadas ao incentivo à leitura, na ampliação da Biblioteca Municipal que passará a ser também um centro cultural, na criação da “Academia Muriaeense de Letras” e principalmente no incentivo aos autores locais.

Muriaé é também uma das poucas cidades que possui e mantém viva sua identidade cultural. Segundo Napier, a música é o símbolo desta identidade que teve início com a “Sociedade Musical União dos Artistas”, em 1935. Na década de 60 foi solidificada com os “Festivais da Canção de Muriaé”  se estendendo até os dias atuais com a escola de música, da banda, do apoio a apresentações de orquestras, corais e das mais diversificadas formas de manifestações fonográficas. Além da música, suas políticas públicas de cultura têm atuações diversificadas no fomento à cultura, levando em consideração a variedade da clientela formada por artistas de distintas áreas. As ações da FUNDARTE têm como prioridade a educação com a arte e a formação de público cultural. Seus projetos são inspirados na experiência local e busca-se adequá-los às necessidades culturais regionais, afastando-os assim de modelos pré-estabelecidos. 

Na discussão sobre a importância de se criar e/ou conservar, iniciada por Mário Brockmann Machado por ocasião do seminário Estado e Cultura no Brasil nos anos 70 , Napier se posiciona adepta das duas formas de políticas públicas de cultura. A importância da conservação estaria na preservação da identidade cultural, e a da criação na abertura de novos rumos e acompanhamento das demandas naturais. A musicista deixa claro inclusive, que esta preservação da identidade deve abranger a comunidade muriaeense como um todo e não somente das elites e dos setores dominantes, preocupação intensa nos escritos de Machado.

Mesmo estando bem colocada no ranking do IPEA,  ao ocupar o sexto lugar no Índice de Gestão Municipal de Cultura em Minas Gerais, e sendo uma das cidades que lideram as ações das políticas públicas de cultura na Zona da Mata Mineira, Muriaé também enfrenta obstáculos para a concretização de suas ações. Para Napier, a falta de verba carimbada para projetos culturais, como a existente na educação, é o principal deles. “Só se consegue captar recursos através das leis de incentivo ou de políticos, não vem nada direcionado à cultura.”  Por outro lado, considera como vantagem comparativa as parcerias público e privadas que são hoje instrumentos em proveito do desenvolvimento da cultura. Além disto, lembra que “um movimento de mudança está sendo planejado e as cidades que se organizarem e comprovarem suas ações em prol da cultura passarão a receber verbas efetivas para concretizá-las.” 

Somando esforços ao trabalho da FUNDARTE, está o Movimento Pró-Cultura de Muriaé, ONG criada em 2001 que tem como objetivo a promoção da cultura como elemento transformador da sociedade. Fundado por um grupo de jovens ligado a Pastoral da Juventude, atua como Ponto de Cultura junto a comunidades carentes, promovendo atividades diversas, buscando difundir cultura, arte, educação, cidadania e consciência ecológica. Entre suas principais atividades estão o “Bloco Oficina de Percussão do Papagaio”, a biblioteca comunitária “Padre Adriano Keet”, o “Centro Comunitário Pró-Cultura”, oficina de dança, oficina de “Teatro Flor e Arte” e o “Projeto Pró-Cultura”. O “Movimento Pró-Cultura”, assim como a maior parte das instituições pesquisadas, encontra dificuldades financeiras, de pessoal qualificado para desenvolver os projetos e entraves burocráticos comuns no país que, no entanto não se tornaram empecilhos para que se transformasse em representativo promotor de políticas públicas na cidade.

É fácil perceber através da posição tomada frente a suas atividades, que as lideranças culturais da cidade ainda possuem sonhos a se realizarem. Entre eles está o de extinguir as diferenças culturais. Para Raymond Williams, as mais diversas elaborações humanas são cultura na medida em que fazem parte do modo de vida em sociedade, e o conceito de cultura como modo de vida não exclui o de produções artísticas porque em ambas o valor atribuído está no significado coletivo. Napier, à frente da FUNDARTE, busca potenciar estes valores e aproximar as diferenças.

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