domingo, 12 de agosto de 2012

Viçosa: política cultural é resultado do trabalho de muitos


“Chuva e sol/Poeira e carvão/Longe de casa sigo o roteiro/Mais uma estação/E a alegria no coração” são versos de Hervé Cordovil, viçosense ilustre que empresta seu nome a uma das estações por ele cantadas e que hoje é sede de um Centro Cultural ao lado da Balaustrada, referência de identidade cultural citada pelos filhos de Viçosa. A cidade possui marcas culturais importantes que dividem as opiniões sobre esta identidade. Além da Balaustrada, a Igrejinha dos Passos, a Casa de Arthur Bernardes, o Congado e o doce de leite ocupam espaços acalorados nos corações dos entrevistados.

Balaustrada
Com 70.923 habitantes  computados pelo IBGE e 20.000 flutuantes, alunos da Universidade Federal de Viçosa - UFV, a cidade tem sua vida por ela influenciada, sobretudo na educação, mas também na economia, serviços públicos, saúde e na cultura. A UFV mantém museus de anatomia, mineralogia, zoologia, de seu acervo histórico, auditórios, uma das maiores bibliotecas da América Latina, espaço para exposições de artes visuais, pinacoteca, além da Casa Arthur Bernardes que inaugurada em 26 de agosto de 1996, reúne desde então, peças e documentos relacionados com os fatos históricos da vida do presidente Arthur da Silva Bernardes, fundador da Universidade.

A UFV é sem nenhuma dúvida referência em educação em Viçosa e região, mas quando se trata de políticas culturais a representação é de competência da ONG Humanizarte. Criada em 2002, pelo professor, diretor de teatro e produtor cultural Marcelo Soares de Andrade, tem como principal objetivo “humanizar a arte de fazer o melhor possível pelo ser humano” e para isto concentra suas ações nas áreas de cultura, educação, esporte e meio ambiente. Tem como parceiros o Governo de Minas Gerais através de suas Secretarias de Ciência e Tecnologia e da Cultura e a UFV, e está alicerçada em quatro eixos que demarcam seus projetos: TIM Grandes Escritores, Minas Olímpica, Reciclarte e Programa TIM ArtEducAção. 

Equipe Humanizarte

Criado no Centro Experimental de Artes de Viçosa, o Programa TIM ArtEducação é uma de suas principais ações. Tem como objetivo oferecer aos alunos da rede pública de ensino oficinas artístico-pedagógicas nas linguagens de teatro, dança artes plásticas, literatura, música e folclore. Em 2001, foi adotado pela TIM que, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura e parceria com as prefeituras, possibilitou sua ampliação para doze cidades mineiras. Dentre as mapeadas neste trabalho estão além de Viçosa, as cidades de Leopoldina, Juiz de Fora, Cataguases e Ubá. “Proporcionar e multiplicar o fomento à arte e à educação para crianças e jovens através do Programa TIM ArtEducAção tornou-se mais uma forma de comprometimento da sociedade, e mais ainda, uma oportunidade de levar a esse público atividades lúdicas e incentivadoras de seus crescimentos pessoal e intelectual” é o que conta seu idealizador. Também desenvolvido sob os auspícios da Humanizarte o  ArtEducação Digital é um programa de leitura digital que busca incentivar adolescentes entre 14 e 18 anos que já tenham habilidade com o meio digital a ampliar seus olhares a partir de suas histórias dando-lhes noções de filosofia, artes plásticas, design, vídeos de curta metragem, ensinando-os técnicas para que possam criar mini textos que os permitam refletir sobre o mundo em que vivem.

Andrade é referência cultural para os viçosenses. Secretário de cultura por doze anos e meio movimentou o panorama cultural da cidade e é lembrado com admiração e agradecimento. Criou o Centro Experimental de Artes em 1993 que desde então, atende crianças carentes nas áreas de artes plásticas, capoeira, contação de histórias, dança, viola e banda de música. Os cursos oferecem a oportunidade de formação cultural e artística, bem como a integração dos alunos com a comunidade, realizando espetáculos em praças públicas e escolas dos bairros.

Cíntia Fontes -  chefe do Departamento de Cultura e Patrimônio de Viçosa
Atualmente as políticas públicas de cultura promovidas pelo município são representadas pela chefe do Departamento de Cultura e Patrimônio de Viçosa, Cíntia Fontes, que ainda não está plenamente satisfeita com o que foi feito em sua gestão e reforça a fala de outros representantes da cultura da região ao lamentar o “engessamento” das verbas culturais. Reconhece que o Centro Experimental de Artes precisa de reestruturação para que as atividades realizadas sejam desenvolvidas com maior êxito, e que mesmo que os maiores investimentos do município à cultura sejam destinados a eventos, é necessário oferecer aos cidadãos investimento ainda maior na área de patrimônio, algo já planejado, além de capacitação aos colaboradores da cultura. Apesar de ter ampliado o ICMS cultural, ter projetos aprovados no Fundo Estadual de Cultura (FEC) e possuir Fundo Municipal de Patrimônio e Cultura (FUMPAC), a cidade passou por problemas administrativos devido a uma troca repentina de gestão. O atual governo está há apenas dois anos à frente da administração, o que para ela, dificultou o avanço, que seria maior num mandato pleno, de quatro anos. 

Mesmo com os entraves, Viçosa é uma cidade rica culturalmente. Possui associação dos artesãos, bandas, corais, grupos de dança e folclóricos, bibliotecas, galerias para exposições e diferentes ateliers; conta com o Centro Cultural de Referência e Pesquisa da Cultura Afro-Brasileira que busca o resgate, a valorização histórica e a construção de uma identidade negra inserida ativamente nas questões políticas, econômica, culturais e sociais da sociedade brasileira; abriga a Associação dos Amigos da Orquestra de Câmera de Viçosa, que criada em 1997 tem como objetivo a difusão da música clássica e como sonho primordial a criação da Orquestra Sinfônica de Viçosa. Entidade sem fins lucrativos recebe apoio da comunidade local, da UFV, subvenção da prefeitura e recentemente firmou convênio com Secretaria de Estado da Cultura e do Ministério da Cultura, ao se tornar um Ponto de Cultura. Assim, pode manter a Escola de Orquestra que prepara crianças e jovens carentes para atuarem como músicos. Os que se destacam passam a compor a Orquestra Jovem e posteriormente a Orquestra de Câmera de Viçosa; somam-se a estes a Associação Cultural Quintal do Samba, definida por seus colaboradores como o “único programa que virou rádio”. A associação possui uma rádio comunitária que procura fazer um programa onde a história e a trajetória do samba de raiz são prioridades. Incentiva grupos de pagodes já existentes e apoia a criação de novos, além de se comprometer com questões socioculturais e políticas da comunidade e garantir essencialmente em sua programação a execução exclusiva dos mais variados ritmos e estilos da música brasileira. O Programa Quintal do Samba está há 25 anos no ar e é um movimento cultural tradicional de Viçosa. Conta com o apoio da comunidade e comércio local, da UFV e com o Governo de Minas Gerais, através de sua lei de incentivo à cultura.

Brenda Santunioni - Comunicadora e promotora de eventos
Na comunidade rural de Palmital nasceu o Instituto Socioambiental de Viçosa – ISAVIÇOSA, com a finalidade de apoiar e desenvolver ações que busquem a melhoria da qualidade de vida da população em harmonia com o Meio Ambiente. Não possui fins lucrativos e é mantida através de doações, parcerias e trabalho voluntário. Uma das atividades que se destacam é o Lona Cultural, uma lona de circo armada em um sítio que se tornou um espaço dedicado à realização de atividades culturais, artísticas e educativas, que incluem cursos, capacitações, oficinas, encontros, apresentação de filmes, peças de teatro, gincanas, brincadeiras, números musicais e contação de histórias, o que possibilita o acesso à cultura e ao entretenimento na zona rural.

Fontes acredita que é preciso identificar e registrar esta diversidade. Ações pontuais podem auxiliá-la na empreitada. Uma delas é o projeto Inventário Artístico Cultural de Viçosa, aprovado, mas infelizmente não captado na Lei de Incentivo à Cultura do estado pelo professor Tancredo Almada Cruz, gestor do Centro de Promoção do Desenvolvimento Sustentável, e muito modestamente esta pesquisa que faz um apanhado com foco nas políticas culturais em toda Zona da Mata. Viçosa tem também chances de sanar seus problemas orçamentários e com isto realizar os sonhos dos gestores, artistas e comunidade, pois é uma das poucas localidades que sabe como buscar recursos juntos às leis de incentivo, além de contar com pessoas engajadas e apaixonadas, trabalhando em prol da cultura. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Críticas e sugestões de instituições culturais para serem mapeadas serão sempre bem vindas.